Cruz e Sousa, a volta de um desterrado
O documentário Cruz e Sousa, a volta de um desterrado, sem dispensar nem a imaginação nem a poesia, prima pelo exercício de buscar no acontecimento a verdade poética dos fatos encobertos pelas imagens dadas. A câmera movimenta-se sem uma direção pré-concebida. O que a faz mover é um impulso, um desejo, o delírio do imprevisível. Por isso ele filma sem roteiro ao sabor do momento, no calor da hora. Sem conter o que não está previsto, não apenas usufrui do que é dado a ver, mas busca-o sofregamente, com sensibilidade, intuição. O lado não visível de uma realidade, de uma maneira ou de outra, está sempre presente, disfarçado no seu spectrum. É algo que, escapando à observação, só pela imaginação pode ser discernido.
O plano seqüência filma ao correr do acontecimento. Embora não possa escapar aos efeitos de montagem é o mais completo, contém os outros, é o único que corresponde a um observador que se move no espaço e que, sem pestanejar, segue qualquer coisa: um personagem ou uma idéia. Através da imagem registrada pela câmera não só tornamos visível a realidade que se extingue como aquela que se esconde.
Perante o imprevisto a câmera só pode ter uma postura: tem de estar atenta, ativa dentro do seu espaço de ação. Deste modo é a verdade que surge, a que não é introduzida. As virtualidades de uma câmera assim manipulada, ágil como os olhos da raposa, buscam não descortinar o invisível, mas tornar visível o que está diante dos olhos de todos, exibir o que não desejam ver.
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